quinta-feira, 23 de junho de 2011

Em nome de quem?


         O gay Kenneth Cummings morreu encomendado para o inferno, com uma facada na cabeça, porque seu assassino tinha a missão de eliminar a perversidade sexual da face da Terra. Terry Magnumn acredita "do fundo do meu coração que fiz a coisa certa”.
         Certa para quem?
         O natural é que a resposta seja: certa para ele, que praticou convictamente o ato. O matador, apesar disso, atribui a Deus a crivação.
         O fato: Deus nunca veio ao mundo divulgar lista dos nomes de quem, em verdade, fala em Seu nome.
         A versão: Tem sempre alguém, alvo de automerecimento ou admiração por outrem, que repassa a notícia mediada de ser o escolhido, o apóstolo, o instrumento de Deus.
         Agir em nome de Deus é um elemento retórico, antidemocrático, que invalida qualquer contestação. Quem questiona está entre a cruz e a espada, porque quem é fulano para contestar desígnios de Deus? Fulano é o inimigo. Quem é contra – lero-lero –, é do demônio.


         Isso não é de Deus

         A lógica do oito ou oitenta não explica a vida, mas não se assuste se, cruzando uma esquina brasileira, surpreender alguém sentenciando o que é do bem e o que é do mal, de Deus ou do diabo. Não ser de um leva obrigatoriamente a ser do outro.
         A parte julgadora sempre está tutelada por Deus e quem discorda dela não tem autoridade para tratar do assunto ou simplesmente é satânica.
         Enquanto no Brasil vira moda fazer uso do Estado laico para desaguar entendimentos de grupos religiosos, na Inglaterra, a Igreja Anglicana autoriza a ordenação de bispos homossexuais. Nos Estados Unidos, a Presbiteriana foi a quarta a permitir sacerdotes gays. Iniciativas de primeiro mundo – não regra. Para o pastor americano Albert Mohler, da Igreja Batista, os evangélicos têm “praticado algo que somente pode ser descrito como uma forma de homofobia”.
         Foi em nome de Deus que Jeronymo Pedro Villas Boas (que anulou a primeira união estável gay do País) esfaqueou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), à qual, na qualidade de juiz que é, deveria ter sido respeitador. Ultrapassa o interesse do veredicto que ele seja pastor. Ele não compreendeu e, por essa razão, poderia abandonar a profissão e ir com Deus.
         Ninguém dialoga em pés de igualdade com as pessoas que têm procuração (por instrumento divino) para falar em nome do Senhor. E sobre essas pessoas não pesam características humanas: elas não têm ódio reprimido, elas não são hipócritas, homofobia nunca as viu, racismo passou longe, nunca mentiram, nunca falsearam atendendo a interesses privados etc. Essas pessoas são tão impecáveis que basta um olho sensível para chegar à conclusão de que o Deus em nome de quem elas agem é ninguém mais que elas próprias.

3 comentários:

  1. As vezes penso que a "ideia de Deus" (sendo esta uma criação humana) é mais ruim do que boa.

    ResponderExcluir
  2. nota mental: Não beber nenhum líquido que manche, enquanto leio o blog do LiGuS Rocha..rs

    ResponderExcluir
  3. Dear,como bem pontuou no final de seu texto, Deus é só um pretexto - como tantos outros - para violência. Um nome divino, inalcançável, que se interpõem entre o julgo, a norma, o pacto social e as misérias humanas. Não fosse divino este nome, seria político, científico, filosófico ou, ainda pior, puramente ideológico.
    O que me intriga, é como esse povo tem tempo de se ocupar com a vida sexual alheia. Cuidar dos gozos do outro, pra não ter que olhar pra própria mediocridade sexual.

    A sabedoria popular resolveria isso no cabo de uma enxada (calma)e um lote pra capinar..rs

    ResponderExcluir