sábado, 4 de junho de 2011

O Post das Citações

A abertura e fechamento das aspas ulteriores salvaguardam tanto o direito autoral de veículos e pessoas que se pronunciaram sobre temas caros a mim quanto asseguram-me a liberdade ética de seletar o que vi e, sob alguma fôrma, ofertar o que achei por bem dividir de outros com outros.
A quem segue o passeio, boa viagem.


“Uma das deficiências maiores em nossa cultura e no mundo inteiro é o cuidado. (...) O ser humano precisa ser cuidado e sentimos em nós a necessidade de cuidar.
“O enfoque (da votação do novo Código Florestal pelo Congresso) é totalmente equivocado. O enfoque está sendo econômico quando deveria ser ecológico, o da floresta em pé. Seria um benefício para todo o sistema Terra. Mantendo a floresta em pé, pelas mil formas de extrativismo e o racional aproveitamento da madeira, o que poderíamos produzir seria muito mais que todo o gado e toda a soja. A Amazônia equilibra todos os climas da Terra e lá está a maior biodiversidade e a maior reserva de água. Nosso Parlamento agiu de forma totalmente irresponsável nessa questão. Em momento algum houve essa dimensão ecológica, mas apenas a dimensão econômica. Quanto poderiam ganhar e quanto poderiam perder. E viram a Terra apenas como um baú de recursos que nós podemos usar. Hoje, toda a ciência diz que a Terra é um organismo vivo que se autorregula e nós somos filhos desse organismo. Esse discurso, nem os mais progressistas suscitaram no Parlamento.
“A tragédia não acaba porque, por trás, há grandes corporações nacionais e internacionais interessadas no agronegócio de exportação. O gado dá dólar, vida humana não dá dólar. Por isso, todas as pessoas que a Comissão Pastoral da Terra indica que estão ameaçadas de morte, já que elas denunciam quem desmata, são eliminadas porque prejudicam o negócio. O Estado brasileiro fica impotente, dadas as dimensões da Amazônia. Ele não consegue nem controlar o desmatamento. Já foram desmatados 700 mil km². Isso corresponde a São Paulo e Minas Gerais juntos, equivale a metade da Europa. Quase metade dos deputados e senadores está ligada ao agronegócio, à soja, ao gado e não tem nenhum interesse em preservar essa herança que recebemos. Não temos os meios de fiscalizar essa extensão imensa de florestas para enfrentar esses verdadeiros assassinos da vida. Há o risco de que, com o aumento da consciência mundial e da importância das florestas, a Amazônia seja declarada de interesse vital mundial e o Brasil não tenha mais a soberania completa sobre ela. Isso está muito presente em grupos internacionais de que participo, com ativistas e políticos, que dizem que a região amazônica é vital para o planeta e que os sete países que nela estão não têm políticas de cuidá-la, sem tecnologia e fundos suficientes para isso. Eles querem, então, gerenciá-la para o bem da humanidade. Perderemos, assim, mais da metade de nosso País.
“Eu acho que devemos distinguir a Igreja hierárquica, do papa, dos bispos e dos padres, da Igreja comunidade, onde há grandes intelectuais. A Igreja institucional e hierárquica ainda não acertou as contas com a modernidade. É um pedaço do mundo medieval que subsiste em meio ao mundo moderno, que mantém ideias fundamentalmente contra a vida, porque ela proíbe a utilização dos contraceptivos, da camisinha, o que na África é uma tragédia. Eu creio que duas coisas são importantes. Primeiro, os bispos e a CNBB precisam aprender a viver numa democracia, que significa não ter o monopólio da palavra e da moralidade. A Igreja é uma força entre outras na sociedade e precisa respeitar outras opiniões. Que ela tenha a sua opinião e a diga, é seu direito, mas ela não pode coagir e manipular os fiéis e sua consciência em favor de seus interesses. Segundo, a Igreja tem de escutar a realidade e não repetir dogmas. Ela tem de escutar o povo. A Igreja institucional é monossexual, só é feita de homens. Os bispos e padres não têm mulheres e filhos. É uma visão reduzida que os tornam insensíveis e, às vezes, cruéis em face dos dramas humanos da sexualidade, dos homossexuais e todas essas expressões que devemos reconhecer como fato, respeitá-las e criar um quadro de legalidade para que vivam em sociedade sem serem discriminados e perseguidos. Essa missão civilizatória deveria ser a da Igreja, mas ela reforça o outro lado, como o preconceito e a perseguição, que é contra a mentalidade de Jesus, que era aberto a todos e que disse uma frase extraordinária: ‘Se alguém vem a mim, eu não mandarei embora.’ Poderia ser um herege, uma prostituta, um homoafetivo. E digo mais: se entre os homossexuais há amor, há algo misterioso e que tem a ver com Deus, porque Deus é amor. Esse discurso civilizatório deveria ser o da Igreja, para aproximar as pessoas e não afastá-las e torná-las agressivas quanto ao próximo.
“No mundo inteiro há um retrocesso das igrejas, não só da Igreja Católica. Elas voltam à grande tradição doutrinária do mundo, rompem o diálogo com a modernidade, rompem o diálogo com outras igrejas, que era pacificador. À força desse afastamento do mundo, a Igreja está perdendo os pobres, os intelectuais e se transformando em um bastião de machismo, de reacionarismo, de medievalismo. É lamentável. Está havendo uma emigração das melhores inteligências leigas da Igreja e um esvaziamento enorme dos cristãos.”
(Leonardo Boff, em entrevista para Rogério Borges – O Popular)


“É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
“No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as ‘pessoas diferenciadas’...).
Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
“No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países-membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela ‘despenalização universal da homossexualidade’.
“A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
“Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
“São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
“A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que ‘quem ama conhece a Deus’ (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).
“Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
“Ora, direis, ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os ‘eunucos de nascença’ (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
“Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão; e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
“Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.”
(Frei Betto – O Globo)


“Sozinha, a escola não será capaz de combater o preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Mas o ambiente escolar é o local mais promissor para por fim à homofobia. Essa é conclusão de um estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo Stiftung (RLS), em 150 municípios brasileiros em todas as regiões do País. Por isso, Gustavo Venturi, coordenador do estudo, defende que o debate sobre esse tipo de discriminação faça parte das aulas, inclusive na infância.
“De acordo com os dados da pesquisa (...), enquanto metade dos brasileiros que nunca frequentou a escola assume comportamentos homofóbicos, apenas um em cada dez brasileiros que cursaram o ensino superior apresentam o mesmo comportamento. O estudo realizado entre 2008 e 2009 com 2.014 pessoas também avaliou as diferenças de preconceito entre as regiões, idade da população, renda, religião. Nenhuma das variáveis apresentou diferença tão drástica de comportamento, segundo Venturi.
“(...) Segundo a pesquisa da Fundação Perseu Abramo, a variável que mais determina o nível de preconceito das pessoas é a escolaridade. Há uma grande diferença de preconceito entre quem nunca foi à escola e quem concluiu o ensino superior (em %).
“‘Isso mostra como a escola faz diferença no combate à homofobia. Só a escolaridade maior não resolve o preconceito, mas influencia fortemente a formação dessas pessoas’, afirma. Para o pesquisador, além de ser um espaço para convivência com as diferenças, a escola pode promover o debate de forma educadora e transformar a percepção de preconceitos arraigados à população. O estudo revelou que o brasileiro ainda não é tolerante com as preferências sexuais de familiares, de colegas de trabalho ou de vizinhos: um quarto dos entrevistados admitiu ter preconceito e agir de forma homofóbica.
‘Para o pesquisador, que queria entender a cara da homofobia no País quando começou o estudo, as diferenças de preconceito de acordo com a idade e o sexo também são importantes. As mulheres são mais tolerantes que os homens em todas as idades. Mas o índice de homofobia entre os meninos adolescentes chamou a atenção de Venturi. Entre os rapazes com idade entre 16 e 17 anos, 47% dos entrevistados admitiram preconceito contra gays, lésbicas, travestis. ‘Esse é mais um sinal da importância da escola. Esse é um momento que o jovem é muito pressionado a fazer definições de identidade’, diz.
(...)
O estudo mostra que o comportamento homofóbico variou pouco entre as regiões (...). Entre as religiões, 10% dos kardecistas declararam preconceito (o mais baixo) contra 31% dos evangélicos entrevistados (o mais alto).
“Gustavo lembra que a pesquisa também entrevistou 413 homossexuais ou bissexuais (com mais de 18 anos e também em todas as regiões brasileiras), e a escola foi apontada por eles como um dos locais onde mais sofreram discriminação. Um terço dos entrevistados já foi discriminado por familiares e 27% sofreram preconceito de colegas da escola. E, para 13% deles, a primeira discriminação ocorrida por causa de orientação sexual ocorreu na escola.
“‘Mudar a legislação é importante porque você diminui os espaços nos quais você pode declarar seus preconceitos. E, para serem reproduzidos, eles precisam ser ditos. A falta de legislação contra a homofobia gera tolerâncias com esse tipo de comportamento. Mas discutir o tema é muito importante também’, afirma Venturi.
“O material, chamado de Escola sem Homofobia, foi produzido por organizações não-governamentais contratadas pelo MEC durante dois anos. O plano era distribuir o kit – composto manual, vídeos e outros materiais de apoio ao professor – a seis mil escolas ainda este ano. (...) O deputado carioca Anthony Garotinho (PR-RJ) admitiu que, para convencer o governo a suspender a produção do material, a bancada evangélica da Câmara ameaçou não colaborar com os projetos do Executivo.
(...)
“Para Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da Anis: Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero, não há forma mais eficaz de promover a igualdade de direitos do que introduzir na escola a sensibilização para o tema de forma pedagógica.
“‘Há uma pressão indevida e desnecessária de grupos religiosos para isso. Não havia nada que ameaçasse a religião ou a integridade de crenças no material’, garante. Débora lembra ainda que as crianças e os adolescentes são mais abertos à discussão sobre promoção de cidadania e discriminação e, por isso, a escola tem de assumir o papel de conversar sobre o tema. Angela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), teme mais atrasos na discussão sobre preconceito dentro da escola.
“‘É responsabilidade da área educacional discutir esse tema. Há muitas coisas que podem melhorar no material, mas ele não é de má qualidade. O Manual das Coisas Importantes, que faz parte do kit, por exemplo, é muito bonito e bem feito’, afirma. Angela espera que a presidenta volte atrás em sua decisão. ‘O material é necessário para os professores qualificarem a discussão e terem apoio, mas a falta dele não pode justificar a omissão de trabalhar o tema na escola’, ressalta.
“Maria Helena Franco, coordenadora de criação dos vídeos que fazem parte do kit Educação sem Homofobia, produzidos pela Ecos – Comunicação em Sexualidade, lamenta a decisão da presidenta. Ela afirma que há muitas pessoas criticando o material sem conhecer seu conteúdo. ‘O foco desse material é levar para as escolas de ensino médio e para educadores e educadoras uma ajuda para erradicar a homofobia. É um apoio que faz falta para eles’, diz.”
(Priscilla Borges – iG Brasília)


“Uma semana depois de pressionar o governo e conseguir suspender a distribuição de um kit nas escolas contra homofobia, o ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) voltou a ameaçar o Palácio do Planalto com a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o crescimento do patrimônio do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
“Desta vez, Garotinho quer que a Câmara vote a chamada ‘PEC 300’, que cria um piso salarial para policiais civis e militares. ‘O momento político é esse. Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci’, afirmou Garotinho, durante a instalação da Frente Parlamentar de Defesa da PEC 300.
“‘A bancada evangélica pressionou e o governo retirou o kit gay. Vamos ver agora quem é da bancada da polícia. Ou vota, ou o Palocci vem aqui’, sentenciou.”
(Agência Estado)


“O deputado Anthony Garotinho confere folclore ao chantagear o governo sabendo perfeitamente que o Planalto não pode mais resolver a questão no varejo e ao ironizar chamando as suspeitas que pesam sobre Palocci de ‘diamante de R$ 20 milhões’. Sem maiores preocupações com detalhes como compostura e nome a zelar, diverte-se.”
(Dora Kramer – O Estado de S. Paulo)


“O salário mal cai na conta e o brasileiro logo sente o peso de possuir a terceira maior carga tributária do mundo. Mas como se não bastasse os descontos do Imposto de Renda e do INSS, um pastor resolveu inovar e criou o 'dízimo no débito automático'. Ou seja: todo mês, 10% do salário do fiel é automaticamente debitado em sua conta-corrente.
“A inovação foi adotada pelo líder da Igreja Internacional da Graça, o missionário R.R. Soares, que ainda faz aos contribuintes a promessa de um secreto 'brinde de Jesus', caso o sistema seja adotado. De acordo com a divulgação feita em seu programa na TV Bandeirantes, a inovação veio para deixar as doações mensais mais práticas. O serviço está disponível para clientes dos bancos Itaú, Banco do Brasil e Bradesco.
“Apesar de causar espanto, o missionário prometeu 'misericórdia' com os inadimplentes, aliviando a barra caso o contribuinte não tenha saldo suficiente para quitar a 'dívida' de 10% da renda mensal. R.R. Soares ainda garantiu que ‘o fiel não será incluído no SPC ou no Serasa’ se o pagamento não for feito. Nesse caso, o dízimo voltará a ser debitado no mês seguinte, sem acumular calotes antigos.
“Atualmente, o brasileiro trabalha 149 dias por ano para pagar seus impostos, de acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Para os evangélicos, os dias de trabalho que lhe são descontados somam 185 dias.
“Levando em consideração os seus 17,3 milhões de fiéis e a renda per capita do brasileiro de US$ 10,814, segundo o IBGE, estima-se que as três maiores igrejas protestantes do Brasil somem uma arrecadação de US$ 187 bilhões, o que representa, por exemplo, um valor seis vezes maior que o PIB do Uruguai, que é de US$ 31,51 bilhões.”
(Guilherme Ribeiro – portal MTV Brasil)

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