domingo, 1 de maio de 2011

Eu não vos declaro marido e mulher

A aclamação “Eu vos declaro...” gravada na caixa-preta do inconsciente coletivo estabelece na nossa tradição “monogâmica” mais que o enredo particular de um casamento religioso entre um homem e, obrigatoriamente, uma mulher. A frase reserva influência extensiva e restritiva, já que não poderá ser usada em favor das outras combinações.
A Igreja zela pela multiplicação da espécie. É contrária ao aborto, ainda que a mulher, proprietária incondicional do feto, declare incapacidade de gestação, parto e seu devir. É contra uso de métodos contraceptivos, indiscutivelmente a maneira mais empregada por casais que, se não nenhum, têm a quantidade de filhos conveniente ao bolso, sem com isso comprometer a rotina de sexo intra e às vezes (licenciados pela hipocrisia que nega tudo diante do altar) extraconjugal.
Seria tolerável a uma cerimônia até mesmo o casamento de fachada, feito por interesses reclamados em áreas indiferentes ao apregoado “amor”, que o casamento force-se instrumento de negócios, que seja defectível à promessa de ir até que a morte os separe. A única rigidez intratável, a qual não permite vista grossa ao drible executado pelo jeitinho brasileiro, é a declaração de marido e mulher; não marido e marido, não mulher e mulher.
Bem sabemos de quando o índio, perante o certo e errado da Igreja, não tinha alma, um negro não frequentava o mesmo espaço de culto que um branco, e como essas morais autorizaram barbáries. Tendo poder de veto a quem pode ir e vir no tapete vermelho dos nubentes, a Igreja dos tempos de hoje informa: casar é proibido em caso de relações homossexuais.
No alto dos vinte e um séculos de contagem da História, é tempo para perguntar:
Que importância tem a falta desse aval?

3 comentários:

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  2. Pensemos no papel simbólico da religião: Religare = religar a alma humana a sua origem divina, a seu Criador, a seu Deus.

    A igreja, instituição concreta que garante efetuar tal façanha, para tanto, pretende administrar não só a alma, como os corpos humanos; repare que nesta conta entram o amor, os laços e os gozos.

    É precisamente nesta equação simbólica que são licitados os interesses dominantes. E desta administração coletiva dos comportamentos privados nascem a Moral (mais filha da culpa do que da ética) e suas meias-irmãs a Civilização e a Barbárie.

    Por esta vocação perniciosa, o aval de uma igreja há sempre de responder a uma demanda de interesses - ora execráveis, ora exigidos - que em geral, pouco tem há ver com o sentido original do sentimento religioso.

    Isto posto, a importância do aval da igreja para qualquer pauta, tem a medida da dependência psíquica de cada um á esta atribuição. Atribuição simbólica de gerir a alma e o corpo dos fiéis, na barganha de um bom post mortem garantido por alianças que satisfaçam ideologias contextuais.

    Pela lógica eclesiástica, mais vale dois corpos infelizes na cama, do que uma alma voando (liberta de dogmas e culpas).

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  3. Nenhuma importância. E concordo muito com as considerações da Maysa. Agora, para além do casamento como sacramento e suas obrigações morais; como instituição, considero que a união civil é uma bandeira importante para resguardar os direitos dos "cônjuges congêneres".

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