domingo, 15 de maio de 2011

O mal sonoro de Bolsonaro

Uma vez, o folclórico deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em frente ao seu gabinete, pendurou um cartaz ofensivo aos militantes da Guerrilha do Araguaia (1972-1975). No cartaz: "desaparecidos do Araguaia, quem procura [osso] é [cachorro]", com as respectivas imagens entre colchetes. Ele se referia à busca de parentes pelas ossadas de militantes mortos na guerrilha desaparecidos na região.
Na condição de militar e político de mandato eletivo, em lugar de solidariedade, agrediu os familiares: "Já não basta o que conseguiram. Agora eles querem mais dinheiro. Querem se posar de vítimas, não têm história para contar. Esse pessoal tem que ficar no lixo da história, tem que dar graças a Deus que os militares, naquela época, impediram a esquerda de tomar o poder".
Bolsonaro renasceu no show business pela respostada que deu à cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil, no programa CQC (BAND): “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”.
Reeleito pela sexta vez deputado, em debate em torno da “Lei da Palmada”, ano passado, afirmou: "Se o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele".
Jair Bolsonaro é suplente na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O lugar é certo, a pessoa é errada. Explicação ou engano, já saiu de sua própria boca que “A Comissão só defende direitos de picareta e de vagabundo”.
Para padrões de direitos civis e humanos, Marta Suplicy (PT-SP) está, sem esforços, anos-luz à frente de Jair Bolsonaro, porque, forçosamente, ele está anos-luz atrás. Dado o histórico indigesto de polêmicas, comunicar o nome deste político não cai bem aos ouvidos. Bolsonaro é mal sonoro. E não há em sua aparição outra coisa senão emblema do quanto o preconceito subtrai a qualidade do conceito.
Na última quinta-feira, como papagaio de pirata atrás de Suplicy, que cedia entrevista, Bolsonaro rebolava para ganhar a publicidade e exibir seu panfleto “anti-gay”, contra PL do lançamento de kits anti-homofobia nas escolas, da qual Marta é relatora. A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) reagiu à provocação de Bolsonaro. “Foi uma atitude covarde”, contou Marinor. “Ele veio por trás da senadora Marta quando ela estava dando uma entrevista”.
“Tira isso daqui, rapaz, me respeita!”. Ao dizer, Marinor bateu no panfleto de Bolsonaro. “Bata no meu, aqui. Vai me bater?”, respondeu Bolsonaro. “Eu bato! Vai me bater?”, rebateu Marinor. “Depois dizem que não tem homofóbico, aqui. Tu és homofóbico. Tu deveria ir pra cadeia! Tu deveria ir pra cadeia! Tira isso daqui. Homofóbico, criminoso, criminoso, tira isso daqui, respeita!”, prosseguiu a senadora do PSOL. Ele contra-atacou: “Ela não pode ver um heterossexual perto dela que sai batendo. Ela não pode ver um macho que fica louca”.
Conforme Marinor, “Bolsonaro é contra esse projeto porque ele tem medo de ser preso após a aprovação. Não é de hoje que ele dá declarações ofendendo as pessoas”. Ela peneira a misoginia: “Ele agrediu a atual ministra Maria do Rosário quando ela era senadora, a então deputada Manoela D’Ávila (PCdoB-RS), a Preta Gil e agora a mim? Sabe-se lá quantas outras agressões ele já não cometeu contra mulheres”, ponderou a senadora Marinor.
Mayara Petruso, aquela estudante de Direito que sugeriu, ano passado, que se fizesse um favor a São Paulo matando afogado um nordestino, foi desligada do Escritório Peixoto e Cury Advogados, na capital paulista, onde estagiava. A OAB do Ceará cobra resposta do MPF acerca dos usuários do Twitter Amanda Régis e Lucian Farah, que compuseram as desafinadas declarações: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que tem moral, cambada de feios. Não é à toa que não gosto desse tipo de raça” e “Acho que eh soo .. bando de viado que roobaram esse jogo... nordestinos burros!”.
Cada qual nas suas proporções. Bolsonaro não é um perfil da rede mundial de computadores, ele salta ao oficial, no Congresso. Sua relação no parlamento, como atestado ante as câmeras que focavam Marta Suplicy, é de parasitismo.
No alto das minhas sessões de psicanálise, percebi as situações em que o jogo de linguagem trapaceia as trancas do inconsciente. Negar para afirmar e afirmar para negar. Aqui, já me penso intolerante por insurgir contra a intolerância. Quantas vezes Bolsonaro precisará não ser mais gay?

Um comentário:

  1. Ainda no jogo de palavras de sorte psicanalítica, o que me é mais sonoro neste nome é o que soa absolutamente boçal... o tal boçal... o Bossalnaro. Equívocos de grafia ou de vida á parte, este o nome é o certo, para uma pessoa toda errada.

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